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Maria Ângela Mattar Yunes & Heloísa Szymanski / Fundação Universidade Federal do Rio Grande, Rio Grande, RS & Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, SP.
Estudos com famílias geralmente enfatizam aspectos deficitários e negativos da convivência familiar pela demonstração de desajustes e falhas. O interesse pela resiliência em famílias, vem contribuir para reverter esse ciclo de raciocínio trazendo o foco para aspectos sadios e de sucesso do mundo familiar. Entretanto, o termo resiliência dá margem a controvérsias ideológicas, agravadas quando o alvo é família e pobreza. Para minimizar as contradições, o presente estudo partiu de um conceito amplo e sistêmico de resiliência definida como "conjunto de processos que possibilitam a superação de adversidades". Foi realizado um estudo de caso com uma família de baixa renda, moradora de um bairro categorizado como "muito pobre" pela comunidade residente no extremo sul do Brasil. Um dos pesquisadores tinha o conhecimento informal de que a família "vivia bem apesar da situação de pobreza". As estratégias metodológicas para o estudo formal da família foram: o relato da história de vida da unidade familiar nos moldes da entrevista reflexiva, genograma e análise dos dados através da grounded-theory. Os resultados confirmaram que a família vivenciou várias experiências de risco como, adoção, privação de necessidades básicas, migração e doenças. Dentre os indicadores de "superação de adversidades", o sistema de crenças da família emergiu como um dos eixos norteadores dos relatos. A família mostrou que valoriza as relações interpessoais e as percebe como constitutivas dos seus membros. Suas interações intra e extrafamiliares formam-se nos padrões de ajuda, aprendizagem, afeto e solidariedade. Diante de crises, a família busca a compreensão e o sentido das dificuldades para manter o controle da situação pela organização, coesão, comunicação aberta e respeito mutuo, além da busca de apoio na família extensa e na rede social externa. O período pós-adversidade é percebido como transformador e benéfico, e o grupo familiar se sente mais forte e com sentimento de solidariedade, uma marca desta família. Por último, pode-se afirmar que esta família percebe-se, sente-se e age como se fosse “diferente” daqueles que os rodeiam, a quem eles próprios criticam como "famílias violentas, negligentes com os filhos e acomodadas à situação de miséria". Sua postura em relação à vizinhança não é crítico-passiva, mas ativa no sentido de promover o bem estar de outras famílias do mesmo endereço social. Seriam os processos acima identificados adequados para definir "resiliência em família", ou apenas sugerem a adaptação do grupo às normas sociais dominantes? É fato que enquanto contexto de desenvolvimento, a família transcende os "muros" de suas casas, para tornar-se também, contexto de desenvolvimento para outras famílias que vivem a mesma situação de pobreza. Poderíamos denominar esse fenômeno "resiliência"?
Palabras Claves: resiliência em família; família; populações de risco
Tipo de presentación: Comunicaciones libres
Email: yunes@vetorial.net
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